Medida anula metas ambientais e expõe conflitos com lideranças democratas e o CEO da Tesla
Por Natal Furucho
Em um movimento de alto impacto político e ambiental, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quinta-feira (12) resoluções do Congresso que revogam os padrões de emissões veiculares propostos pela Califórnia, enfraquecendo metas progressivas de eliminação de veículos a combustão no estado.
A cerimônia, realizada na Casa Branca, foi marcada por críticas diretas à liderança democrata californiana e ao empresário Elon Musk, CEO da Tesla. O ato revoga o mandato estadual que previa a transição total para veículos com emissão zero até 2035. Essa medida que já havia sido replicada, parcial ou integralmente, por outros 17 estados norte-americanos.
“Sob o governo anterior, a Califórnia ganhou poderes ditatoriais para controlar o futuro da indústria automobilística. Isso acabaria com o motor a combustão interna, que é a preferência da maioria”, declarou Trump.
Metas ambientais derrubadas
As metas anteriormente estipuladas pela Califórnia previam que até 2026, 35% dos veículos novos seriam elétricos; até 2030, 68%; e em 2035, 100%. Trump, no entanto, argumenta que tais exigências comprometeriam a competitividade da indústria automobilística dos EUA, limitando a escolha do consumidor e sobrecarregando a infraestrutura energética.
Apesar das críticas, várias montadoras — incluindo General Motors e Ford — já haviam aderido voluntariamente a estratégias de eletrificação de suas frotas, alinhando-se às diretrizes globais de descarbonização.
O governador Gavin Newsom reagiu de forma contundente:
“Trump está destruindo o ar limpo e a competitividade global dos EUA. Vamos processar para barrar essa medida ilegal”, afirmou.
Choque institucional e presença militar na Califórnia
O embate entre Trump e a Califórnia não se limita ao setor automotivo. Recentemente, o presidente autorizou o envio de cerca de 4 mil membros da Guarda Nacional e 700 fuzileiros navais ao estado, sob a justificativa de conter a escalada de protestos contra operações de deportação em massa.
O governador Newsom classificou a medida como um “passo em direção ao autoritarismo” e também entrou com ação judicial para limitar a presença militar federal no território estadual.
Crise com Elon Musk
Outro ponto de tensão destacado por Trump foi sua deteriorada relação com Elon Musk. Após ter sido um dos principais apoiadores financeiros da campanha republicana em 2024 e ter assumido uma função consultiva no governo, Musk rompeu com Trump, criticando publicamente a política fiscal e os projetos legislativos do atual mandato.
“Ele ficou um pouco estranho, mas eu ainda gosto da Tesla”, afirmou Trump, sugerindo que o rompimento se deveu à revogação das políticas de incentivo aos veículos elétricos.
Musk, por sua vez, negou que as divergências estejam ligadas ao setor automotivo e classificou o projeto de orçamento aprovado por Trump como uma “abominação nojenta”.
Tarifas e indústria automotiva
Durante o evento, Trump também sinalizou um possível aumento nas tarifas de importação de automóveis. Hoje, veículos importados enfrentam uma tarifa de 25%, valor que pode ser elevado em breve como medida de proteção à indústria nacional.
“Se quiserem vender Mercedes aqui, terão que fabricar em solo americano. Caso contrário, pagarão tarifas pesadas”, declarou.
Trump utilizou a mesma retórica para defender tarifas sobre aço e alumínio, citando um novo acordo com a japonesa Nippon Steel, que prevê investimento na US Steel e controle acionário majoritário por parte dos EUA.
A revogação dos padrões californianos é mais do que uma decisão técnica sobre emissões veiculares, na verdade, representa um marco no reposicionamento ideológico do governo Trump frente às políticas ambientais, de autonomia estadual e às alianças empresariais que moldam a transição energética global.
Com ações judiciais à vista, tensão crescente entre entes federativos e a indústria automobilística buscando estabilidade regulatória, os desdobramentos dessa decisão devem ressoar muito além das fronteiras da Califórnia. Mais uma vez, os países produtores de veículos elétricos surfam nas dificuldades de relacionamento dentro dos EUA.
Natal Furucho é especialista em big data, inteligência artificial e gestão de alta performance.
