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Por Natal Furucho
As chamadas terras raras, um grupo de 17 elementos químicos essenciais para o funcionamento de tecnologias modernas, tornaram-se um dos recursos mais estratégicos do século XXI. Embora não sejam tecnicamente raros, sua extração e processamento são complexos, o que os torna valiosos em nível global e um ponto sensível em disputas geopolíticas e comerciais.
O grupo é composto por 15 elementos da série dos lantanídeos, além de escândio e ítrio, que apresentam características físico-químicas semelhantes. Eles não são encontrados em estado puro na natureza e estão geralmente dispersos em minerais como bastnasita, monazita e xenotima.
Apesar do nome, esses elementos são relativamente abundantes na crosta terrestre. O verdadeiro desafio está na concentração em níveis economicamente viáveis e na separação dos elementos, que exige tecnologias avançadas e gera impacto ambiental significativo.
A China lidera amplamente a produção mundial de terras raras, controlando entre 60% e 70% da extração global e cerca de 85% da capacidade de refino e separação que são etapas críticas no processamento desses elementos. Essa hegemonia permite ao país influenciar preços e abastecimento, colocando as terras raras no centro de tensões comerciais, como nas disputas com os Estados Unidos.
Outros países têm buscado alternativas para reduzir essa dependência. Os Estados Unidos, por exemplo, reativaram a mina de Mountain Pass, na Califórnia, e a Austrália abriga a mineradora Lynas, considerada a maior produtora fora da China. Brasil, Índia, Rússia e Mianmar também possuem reservas importantes, ainda que mal exploradas.
Esse mercado está em expansão. Em 2024, o mercado global de terras raras foi estimado em cerca de US$ 18 bilhões, com expectativa de crescimento acelerado nas próximas décadas. A transição energética e a corrida tecnológica estão impulsionando a demanda, principalmente por elementos como neodímio, praseodímio, disprósio e térbio, utilizados em ímãs permanentes de alta performance.
Presentes em praticamente todos os setores tecnológicos de ponta, elas são indispensáveis para a fabricação de smartphones, telas LED, turbinas eólicas, veículos elétricos, satélites, sensores e equipamentos militares de precisão.
Na indústria automotiva, aparecem em motores híbridos, catalisadores e baterias. No setor energético, garantem o desempenho de turbinas eólicas e painéis solares. Na defesa, estão em radares e armamentos inteligentes.
O Brasil possui reservas significativas, especialmente de monazita nas regiões do Espírito Santo, Amazonas e Bahia. No entanto, a exploração em larga escala ainda é limitada por falta de investimentos, entraves ambientais e ausência de uma cadeia produtiva estruturada.
As terras raras estão longe de ser apenas uma curiosidade geológica. Elas são a espinha dorsal da tecnologia moderna e peça-chave na geopolítica global. Para países como o Brasil, a oportunidade é clara: desenvolver uma cadeia sustentável e competitiva pode significar protagonismo no novo mapa estratégico dos recursos naturais.
A monazita, encontrada nas terras brasileiras é um mineral fosfatado rico em elementos de terras raras, especialmente o cério (Ce), lantânio (La), neodímio (Nd), e frequentemente contém tório (Th), que é radioativo. Ela tem grande importância econômica por ser uma das principais fontes de extração desses elementos.
O neodímio (Nd) extraído da monazita é usado em imãs superpotentes, além de discos rígidos, alto-falantes, fones de ouvidos, motores de veículos elétricos e turbinas eólicas, sendo um elemento muito importante para as indústrias de eletrônicos em franca expansão mundial.
Uma curiosidade: as terras raras, eram desprezadas na década de 80 por sua extração altamente poluente e suja. A China, aproveitou-se dessa condição e considerou esses recursos como estratégicos para o futuro. Meteu a mão na sujeira, literalmente, e transformou o desprezível em matéria prima de alta produção tecnológica.
Em sua principal fonte de extração e depósito em Bayan Obo, na Mongólia Interior, criou a Baotou Steel Rare Earth Group, uma das maiores do mundo que detém hegemonia absoluta da produção mundial, tornando o país importantíssimo na produção de todos os equipamentos modernos utilizados pela humanidade.
É hora de o Brasil seguir o exemplo, sujar as mãos e buscar tecnologia para extrair, separar e transformar esses minerais em ativos do mercado para as grandes indústrias mundiais de produtos de alta tecnologia.
Natal Furucho é especialista em big data, inteligência artificial e gestão de alta performance.