Tensões entre Israel e Irã Elevam o Risco no Comércio Global de Petróleo e Ameaçam Rotas Estratégicas
Por Natal Furucho
A recente eclosão do conflito entre Israel e Irã mergulhou os mercados globais de energia em uma nova fase de incerteza, reacendendo temores sobre a segurança das principais rotas marítimas do petróleo e o impacto econômico em escala global. Os estreitos de Ormuz e Bab al-Mandab, considerados gargalos estratégicos do comércio internacional, tornaram-se epicentros de tensão geopolítica e instabilidade logística.
No Golfo Pérsico, a intensificação da atividade militar iraniana em torno do Estreito de Ormuz, por onde passam cerca de 20% das exportações globais de petróleo, ou cerca de 18 a 20 milhões de barris por dia, já gerou mudanças nas rotas comerciais e aumento dos custos de transporte. No último dia 17 de junho, a colisão entre dois petroleiros próximo ao estreito causou um incêndio e a evacuação de tripulantes. Embora não tenha havido vazamento de óleo, o incidente evidencia o risco de acidentes em uma hidrovia vital com margem mínima para erro.
Além dos riscos físicos, alertas de interferência eletrônica nos sistemas de rastreamento de navios foram registrados em áreas próximas a Bandar Abbas, um dos principais portos do Irã. Fontes do setor marítimo relatam episódios recorrentes de spoofing e jamming, comprometendo a navegação segura de embarcações comerciais. A Grécia, país com forte presença na frota global de petroleiros, orientou suas companhias a registrar todas as passagens por Ormuz, sinalizando o nível de preocupação entre os principais atores marítimos.
Com a escalada das tensões, os prêmios de seguro de risco de guerra dispararam. De acordo com estimativas do mercado de Londres, os custos adicionais podem variar entre US$ 3 e US$ 8 por barril apenas pela reavaliação do risco geopolítico. As taxas de frete para navios do tipo VLCC (Very Large Crude Carrier) entre o Golfo Pérsico e a Ásia registraram alta superior a 20% nas últimas semanas.
“O aumento de prêmios e fretes já impacta diretamente países importadores de energia, em especial na Ásia, que dependem dessas rotas para abastecimento. Isso agrava a inflação e pressiona governos que já enfrentam cenários fiscais delicados”, afirma Lina Karunaratne, analista da Energy Intelligence.
Mais ao sul, a instabilidade persiste no Mar Vermelho e no Canal de Suez. Desde o final de 2023, ataques dos rebeldes houthis a embarcações comerciais no estreito de Bab al-Mandab forçaram várias companhias a evitar a rota tradicional via Suez, optando por desvios ao redor do Cabo da Boa Esperança. Essa mudança amplia o tempo de transporte em até 14 dias e eleva significativamente os custos logísticos.
A Autoridade do Canal de Suez informou que suas receitas caíram drasticamente: de US$ 2,4 bilhões no primeiro semestre de 2023 para US$ 880 milhões no mesmo período de 2024. O Egito oferece descontos de até 15% nas taxas para tentar reverter a tendência, mas a ameaça de novos ataques ainda mantém as transportadoras em alerta.
Relatório divulgado em 17 de junho por empresas de seguro marítimo indica que os prêmios de risco de guerra para navios com destino a Israel continuam elevados, variando de 0,7% a 1,0% do valor total da embarcação — o que pode representar até US$ 1 milhão de custo extra por viagem em navios de grande porte.
O conflito em curso entre Israel e Irã expôs vulnerabilidades já conhecidas, mas agora potencialmente catastróficas, das rotas de abastecimento energético global. Países do Golfo, como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Iraque, têm intensificado esforços diplomáticos e operacionais para conter os impactos. Riad, por exemplo, ofereceu cargas adicionais de petróleo para aliviar a pressão sobre os preços internacionais, que já oscilam acima de US$ 95 o barril.
Mesmo sem um bloqueio formal do Estreito de Ormuz, analistas alertam que a possibilidade de uma escalada regional, envolvendo milícias aliadas ao Irã como os houthis no Iêmen ou o Hezbollah no Líbano, é real. Um ataque a infraestrutura crítica ou um erro de cálculo pode comprometer severamente o fluxo de petróleo e gás natural, afetando a recuperação econômica global.
Mais do que apenas flutuações nos preços dos combustíveis, o atual cenário evidencia a necessidade de uma revisão estrutural na abordagem da segurança energética. Especialistas apontam para a urgência de coordenação internacional para garantir a liberdade de navegação, inteligência marítima em tempo real, rotas alternativas e investimento em infraestrutura resiliente.
“A crise mostra que os estoques estratégicos e os mecanismos de controle de preços não são mais suficientes. A segurança energética precisa ser pensada como parte da arquitetura de segurança global”, defende Karim El-Khoury, diretor de geopolítica da Agência Internacional de Energia (IEA).
Paralelamente, iniciativas diplomáticas para reforçar canais de comunicação entre potências regionais e internacionais devem ser intensificadas. A construção de mecanismos de prevenção de conflito e o fortalecimento de operações navais cooperativas são considerados cruciais para evitar uma escalada não intencional.
Num momento em que as linhas de suprimento globais estão sob pressão constante, garantir a liberdade de navegação deixa de ser apenas uma prioridade estratégica — passa a ser uma condição essencial para a estabilidade econômica mundial.