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Por Natal Furucho
A China acaba de ultrapassar a marca de 626 universidades oferecendo cursos relacionados à inteligência artificial (IA). Em 2018, eram apenas 35. Esse salto foi impulsionado por uma estratégia nacional robusta revela uma transformação silenciosa, mas profunda: o conhecimento técnico sobre IA está se tornando um novo “idioma oficial” da economia digital.
O que chama atenção, no entanto, é que a corrida pela IA não está sendo travada apenas com números. O governo chinês estabeleceu em 2017 um plano em três fases para transformar o país em potência global de IA até 2030. Desde então, as universidades têm sido orientadas a combinar formação técnica de excelência, currículos interdisciplinares e forte articulação com o setor produtivo.
Na prática, vemos isso em instituições como a Universidade de Ciência e Tecnologia de Changsha, que fundiu cursos de automação, robótica e IA em uma única escola, e na Universidade Jiaotong de Pequim, onde a IA já é parte integral da formação de engenheiros em áreas como veículos inteligentes e sistemas ferroviários inteligentes.
O resultado? Taxas de empregabilidade acima de 90%, projetos reais de robótica aplicados à agricultura e infraestrutura, e alunos que constroem robôs funcionais do zero antes mesmo de concluir a graduação.
E o Brasil, onde está?
Apesar de termos centros de excelência e comunidades técnicas vibrantes, a formação estruturada em IA no Brasil ainda engatinha. Segundo o INEP, menos de 5% das instituições oferecem cursos formalmente voltados à inteligência artificial. A maioria das oportunidades estão concentradas em pós-graduações ou módulos dentro de cursos tradicionais como ciência da computação.
O risco é evidente: ficarmos presos a uma bolha de especialização rasa, com profissionais formados mais em palavras da moda do que em competências reais. Expandir cursos é necessário, mas não suficiente. A questão-chave é: estamos formando engenheiros de verdade ou apenas repetidores de frameworks prontos?
A bem da verdade, não há formação adequada nas novas ciências e o que predomina é o anacronismo educacional brasileiro. Mesmo diante de todas as inovações tecnológicas no planeta, ainda estamos educando com o mesmo modelo do século passado. Ou seja, ensinando o analógico em tempos de Inteligência Artificial.
O novo método de formação acadêmica chinesa tem lições que podemos aplicar ao nosso modelo educacional e, com isso, direcionar nossos jovens ao caminho que norteará suas escolhas no futuro. Nesse novo formato acadêmico e profissional, não deve tratar a IA como um curso isolado, mas como uma camada integrada a engenharias, saúde, agronegócio e logística. Uma vez que, a inteligência artificial não é só uma tendência é um divisor de águas na forma como trabalhamos, aprendemos e tomamos decisões. E sua presença crescente no ensino superior pode ser a diferença entre um país que consome tecnologia e um país que a cria.
Expandir o número de cursos em IA é necessário, sim. Mas, se não tivermos coragem para repensar como ensinamos e o que priorizamos, correremos o risco de formar muitos alunos… para poucos desafios.
Natal Furucho é especialista em big data, inteligência artificial e gestão de alta performance. Atua na integração entre inovação tecnológica e estratégias educacionais.