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Por Natal Furucho
Bloco asiático intensifica integração e busca novas parcerias internacionais para reduzir impactos do protecionismo dos EUA.
A imposição de tarifas comerciais pelos Estados Unidos, especialmente as chamadas “tarifas recíprocas” anunciadas pelo ex-presidente Donald Trump, tem provocado reações ao redor do mundo. Um dos blocos mais ativos nessa resposta é a ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático), que reúne dez países da região.
A organização tem adotado uma postura coordenada para mitigar os impactos das medidas unilaterais de Washington. A decisão foi reforçada na última cúpula do grupo, realizada em Kuala Lumpur, capital da Malásia.
Criada nos anos 1960, a ASEAN, formada por 10 membros – Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Filipinas, Cingapura, Tailândia e Vietnã vem ganhando protagonismo no cenário internacional. Em 2000, a economia do Japão era cerca de oito vezes maior que a do bloco. Hoje, essa diferença caiu para pouco mais de uma vez. A previsão é de que, até 2030, a ASEAN ultrapasse o Japão em tamanho econômico.
Além disso, entre 2010 e 2020, os países do grupo contribuíram mais para o crescimento da economia global do que a União Europeia. Entre 2003 e 2023, o comércio da ASEAN com o mundo mais que quadruplicou — saltou de US$ 618 bilhões para US$ 2,8 trilhões.
O crescimento do bloco também está relacionado à sua estabilidade política. A ASEAN é reconhecida por adotar um modelo de tomada de decisão baseado em uma cultura de consulta e consenso, prática conhecida como musyawarah e mufakat no idioma indonésio.
Essa abordagem ajudou o grupo a superar crises econômicas e manter a paz na região, mesmo diante de diferenças políticas e culturais entre os membros. Os atuais líderes — como Anwar Ibrahim (Malásia), Prabowo Subianto (Indonésia) e Lawrence Wong (Cingapura) — têm dado continuidade a essa tradição.
Trump une o que antes era fragmentado. As tarifas impostas pelos Estados Unidos variam de país para país dentro do bloco — de 10% em Cingapura a 49% no Camboja —, mas o impacto político foi comum: os países entenderam que precisam agir juntos.
Durante a cúpula em Kuala Lumpur, os líderes da ASEAN propuseram um encontro direto com Donald Trump, caso ele retorne à presidência dos EUA, para discutir uma nova estrutura de cooperação econômica. A proposta foi baseada em um comunicado recente do bloco, que defende uma parceria “robusta e voltada para o futuro” com os americanos.
Em busca de novos aliados, apesar do foco na negociação com os EUA, a ASEAN tem ampliado suas relações com outras potências. A recente cúpula com a China e com o Conselho de Cooperação do Golfo — a primeira do tipo — sinaliza uma estratégia clara: manter o comércio aberto e diversificado.
Hoje, os EUA mantêm um superávit comercial significativo em serviços com a região e investiram quase US$ 500 milhões na ASEAN em 2023. Mesmo assim, o bloco quer reduzir a dependência de parceiros específicos.
Comércio interno também entra no radar. Outra frente de atuação da ASEAN é o fortalecimento do comércio entre seus próprios membros. Em 2023, esse comércio representou 21,5% do total movimentado pelo bloco — queda em relação aos 25% registrados em 2003. Mas esse recuo, segundo analistas, se deve ao crescimento acelerado das trocas com o resto do mundo.
Mais de 99% dos produtos já circulam sem tarifas dentro do bloco. Agora, o objetivo é eliminar barreiras não tarifárias e facilitar ainda mais os negócios entre os países-membros.
O bloco aposta em acordos multilaterais. A ASEAN também tem à disposição ferramentas como a Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP) e o Acordo Transpacífico (CPTPP), que podem servir de base para futuras negociações com a União Europeia, por exemplo.
A expectativa é que o bloco use esses acordos para garantir maior resiliência e estabilidade econômica, mesmo em um cenário global mais protecionista.
O futuro da ASEAN passa por integração. A ofensiva tarifária de Trump pode representar um desafio imediato, mas também serviu de catalisador para uma maior coesão entre os países do Sudeste Asiático. Com lideranças experientes e uma cultura política baseada no consenso, a ASEAN busca transformar adversidades em oportunidades.
Segundo os próprios líderes do bloco, o futuro da região será moldado por mais diálogo, mais cooperação e menos dependência externa. Pelo visto, as recentes intervenções de Trump no comércio global, estão fortalecendo blocos que se unem
Natal Furucho é especialista em big data, inteligência artificial e gestão de alta performance.